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Introdução
O couro cabeludo humano é um ecossistema complexo, habitado por uma grande diversidade de bactérias, fungos e outros microrganismos que formam o chamado microbioma capilar. Assim como o intestino possui sua flora intestinal, responsável por regular inúmeros processos do corpo, o couro cabeludo também abriga uma comunidade microbiana essencial para manter a saúde dos fios e prevenir distúrbios capilares.
Nos últimos anos, estudos científicos vêm mostrando que desequilíbrios nesse microbioma — um fenômeno chamado de disbiose — podem estar diretamente ligados a problemas como caspa, dermatite seborreica, queda de cabelo e até alopecia androgenética (Saxena et al., 2018).
Neste artigo, vamos explorar como bactérias e fungos influenciam a saúde capilar, quais as descobertas mais recentes da ciência sobre o microbioma do couro cabeludo e o que isso significa para o futuro da tricologia.

O que é o microbioma do couro cabeludo?
O microbioma do couro cabeludo é formado por uma comunidade dinâmica de bactérias (como Cutibacterium acnes e Staphylococcus epidermidis) e fungos (principalmente do gênero Malassezia). Esses microrganismos vivem em equilíbrio sobre a pele, alimentando-se de lipídios, suor e resíduos naturais produzidos pelo organismo.
Quando essa microbiota está equilibrada, o couro cabeludo mantém sua barreira protetora intacta, garantindo hidratação, resistência contra agentes externos e crescimento saudável dos fios. Porém, quando o equilíbrio se rompe, microrganismos oportunistas podem se proliferar em excesso, desencadeando inflamação, irritação e enfraquecimento dos folículos.
Fungos do couro cabeludo: vilões ou aliados?
O gênero Malassezia é um dos mais estudados no couro cabeludo. Embora esteja presente em quase todas as pessoas de forma natural, seu crescimento descontrolado está associado à caspa e dermatite seborreica. Pesquisas mostram que espécies como Malassezia restricta e Malassezia globosa são mais abundantes em pacientes com descamação intensa (Wang & Yu, 2022).
Além da caspa, outros fungos como Trichophyton e Microsporum podem causar infecções mais sérias, como a tinea capitis, comum em crianças, caracterizada por placas de queda localizada e inflamação intensa (Shelley et al., 1987).

(imagem meramente ilustrativa)
Bactérias e seu papel na saúde capilar
Entre as bactérias mais comuns no couro cabeludo, duas espécies desempenham papéis cruciais:
- Cutibacterium acnes: associada a um couro cabeludo saudável, participa da regulação do pH e atua como barreira contra patógenos.
- Staphylococcus epidermidis: em excesso, pode se associar à formação de caspa e inflamação, comprometendo a saúde folicular.

(imagem meramente ilustrativa)
Microbioma e alopecia: existe relação?
Alopecia androgenética (calvície de padrão masculino e feminino) sempre foi atribuída a fatores genéticos e hormonais, especialmente à ação da di-hidrotestosterona (DHT). No entanto, pesquisas recentes sugerem que o microbioma também pode desempenhar um papel nesse processo.
Um estudo comparando pacientes com alopecia androgenética e indivíduos saudáveis identificou diferenças significativas na composição bacteriana e fúngica do couro cabeludo. Além disso, a aplicação de extratos naturais, como o da raiz de Lindera strychnifolia, mostrou potencial em restaurar o equilíbrio microbiano e melhorar o ambiente capilar (Filaire et al., 2020).
Isso reforça a ideia de que, no futuro, os tratamentos para queda de cabelo podem incluir moduladores do microbioma, como probióticos e pós-bióticos tópicos.

O papel dos probióticos e pós-bióticos no couro cabeludo
Se no intestino os probióticos já são amplamente reconhecidos por seu impacto positivo, no couro cabeludo esse campo ainda é emergente, mas promissor.
Um estudo clínico mostrou que o uso de shampoo enriquecido com pós-bióticos (Lacticaseibacillus paracasei) regulou a abundância de Malassezia e reduziu a produção de sebo, além de favorecer o crescimento capilar (Tsai & Fang, 2023).
Isso abre espaço para terapias mais naturais e menos agressivas, priorizando a restauração do equilíbrio microbiano como estratégia de tratamento.
Piedra Branca: um exemplo de desequilíbrio fúngico
Entre as infecções fúngicas menos conhecidas do couro cabeludo está a Piedra Branca, causada por fungos do gênero Trichosporon. Essa condição se manifesta por nódulos esbranquiçados que se aderem aos fios, dificultando a estética e, em alguns casos, fragilizando os cabelos (Conant, 1957).
Embora rara, a doença exemplifica como o desequilíbrio microbiano pode gerar problemas específicos e muitas vezes negligenciados. Para entender melhor esse tema, recomendamos a leitura do artigo já publicado no blog da Clínica Follicles: Piedra Branca/Preta: Uma Abordagem Completa sobre essa Moléstia Capilar.

(imagem meramente ilustrativa)
Microbioma e dermatite seborreica
A dermatite seborreica é um dos distúrbios mais estudados em relação ao microbioma do couro cabeludo. Pesquisas mostram que pacientes com a doença apresentam uma rede microbiana menos estável e mais frágil, com proliferação excessiva de fungos e queda na diversidade bacteriana (Kim et al., 2016).
Esse desequilíbrio resulta em inflamação crônica, descamação e desconforto, demonstrando claramente como o microbioma atua como regulador da saúde cutânea.
Futuro da tricologia: microbioma como alvo terapêutico
O estudo do microbioma do couro cabeludo é uma área relativamente nova, mas que já está transformando a forma como entendemos a saúde capilar. Em vez de tratar apenas os sintomas (como oleosidade, caspa ou queda), a tendência é desenvolver terapias que restauram o equilíbrio da microbiota, promovendo saúde de dentro para fora.
Isso pode incluir:
- Probióticos tópicos para modular bactérias e fungos.
- Prebióticos que nutram microrganismos benéficos.
- Fitoterápicos naturais com ação reguladora sobre a microbiota.
- Diagnósticos avançados, capazes de mapear o microbioma individual e propor tratamentos personalizados.

Conclusão
O microbioma do couro cabeludo é uma peça-chave para a saúde capilar. Bactérias e fungos não são apenas inimigos: quando em equilíbrio, são aliados fundamentais na proteção do couro cabeludo e na manutenção de fios fortes e saudáveis.
A ciência mostra que distúrbios como caspa, dermatite seborréica, alopecia androgenética e até infecções como a Piedra Branca estão ligados à disbiose microbiana. Por isso, compreender e cuidar desse ecossistema deve ser parte essencial dos protocolos modernos em tricologia.
Na Clínica Follicles, acreditamos que o futuro dos tratamentos capilares passa pelo cuidado integrado do microbioma, respeitando a individualidade de cada paciente e aplicando terapias naturais, não invasivas e cientificamente embasadas.